Como formar leitores nos dias atuais?
Felipe Munita é professor e pesquisador na Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidade Austral do Chile. Tem publicados os livros Fazer da leitura uma experiência (Biblioteca Nacional do Peru, 2020), Eu, mediador(a) – mediação e formação de leitores (edição brasileira Selo Emília e Solisluna, 2024), Dez pássaros na minha janela (2016), Trinares (2023), além de ser coautor de Acompanhar o leitor (Graó, 2022). Por seu trabalho de pesquisa, recebeu os prêmios Extraordinário de Doutorado e Aurora Díaz Plaja e foi convidado a dar palestras e workshops em mais de dez países da região ibero-americana. Também recebeu importantes reconhecimentos internacionais, como o Prêmio Hispano-Americano de Poesia para a Infância, a Medalha Colibri do IBBY Chile, e os prêmios Os Melhores do Banco do Livro.
Com foco na prática pedagógica e literária, o autor se destaca no estudo da mediação e de seu papel fundamental na formação de leitores. Munita defende a importância da criatividade e da adaptação no ensino literário pois, para ele, o papel fundamental do docente é promover conexões entre a realidade dos alunos e a experiência literária. Batemos um papo com o autor para que pudesse explicar melhor o seu ponto de vista.
Quais características deve ter um mediador de leitura para envolver o leitor?
Em primeiro lugar, a mediação exige a construção, por parte do mediador ou mediadora, de um espaço de acolhimento e hospitalidade, pois muitas vezes é isso que permite aos sujeitos superarem certas barreiras (biográficas e socioculturais) que os impedem de se sentirem convidados a participar de novas experiências com o que é escrito. Além disso, o mediador deve ter habilidades para gerir encontros intersubjetivos, pois em muitos casos a prática da leitura envolve a participação em espaços de diálogo com outras pessoas. E também, você deve ter uma bagagem ampla de conhecimento literário, para poder escolher os textos que podem ser mais interessantes para um público ou outro.
Considerando que países têm realidades diferentes (muitas vezes as diferenças se fazem presentes no próprio país), existem especificidades de atuação de mediadores, a depender do país?
Um primeiro ponto está relacionado com o contexto específico de atuação de cada mediador, uma vez que mediar não é a mesma coisa se você é professor de línguas numa escola ou se é responsável por uma biblioteca pública, ou se é responsável por um clube de leitura numa residência para pessoas idosas. Cada um destes contextos tem os seus próprios objetivos sociais e/ou educativos e, portanto, a mediação deve responder a esses objetivos. Então, a primeira especificidade depende do seu próprio contexto de atuação. E depois, claro, poderá haver especificidades específicas de alguns países. Por exemplo, em países onde uma elevada percentagem de população fala línguas indígenas, a mediação deve obviamente considerar isto como um ponto de partida. No entanto, apesar destas especificidades,existem também muitos elementos de mediação e formação de leitores que são comuns a todos os contextos.
Qual o objetivo da mediação de leitura?
Simplificando: o objetivo não é necessariamente que todas e todos sejam leitores, mas sim trabalhar na construção de condições (materiais e simbólicas) favoráveis para que cada pessoa decida ou não ser leitor.
Você escreve poesia para crianças e adolescentes. O seu interesse pela mediação de leitura veio a partir daí?
Meu interesse pela mediação de leitura começou pouco antes de escrever poesia para crianças. Concretamente, veio quando saí da universidade e comecei a trabalhar numa fundação que desenvolvia projetos de biblioteca escolar. Ali descobri o mundo da literatura infantil – que era totalmente invisível na educação universitária daqueles anos – e descobri também a força que pode ter a formação leitora nos processos de construção da cidadania e da democracia. Alguns anos depois surgiram os livros de poesia para crianças e jovens.
Em tempos de redes sociais e I.A., quais os maiores desafios para formar leitores? Ou essas também são ferramentas que auxiliam para atrair leitores?
Tudo depende de como as utilizamos pois, a princípio, não têm porque serem nossos inimigos. Conheço, por exemplo, belos projetos de mediação que aproveitam as redes sociais como espaços para criar comunidades de leitores, ou para socializar as nossas leituras favoritas. Muitas pessoas pensam que, por si só, as redes são ruins ou inimigas da leitura. Mas o certo é que muitos adolescentes, por exemplo, têm aí espaços importantes para a construção da sua identidade individual e social. Por que não utilizá-los então como aliados e aproximarmos desse mundo que é tão importante para os jovens, para abrir ali espaços de conversação literária e de socialização em torno da leitura?
Sobre o livro
Segundo Cecilia Bajour, o livro “Eu, Mediador(a)” é uma base sólida em que podemos nos apoiar. Ele aborda, a princípio, o conceito de mediador em sua função básica, ainda que complexa, para então evocar a prática e a maneira como essas ideias podem se estabelecer no mundo. A partir dos mais variados exemplos e de uma linha de raciocínio muito bem estruturada, Munita nos mostra, às claras, como fazer a conexão dos leitores com o mundo literário.
Lançamento do livro em Salvador
‘Eu, Mediador (a) - Mediação e Formação de Leitores’
Conferência com Felipe Munita no encerramento do VI ELEGE - Encontro de Leitura e Escrita do Geling, promovido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia
Bate-papo com o autor e a educadora Giselly Lima em seguida sessão de autógrafos com Felipe Munita
Quando: 25 de outubro, sexta-feira, 17h
Onde: Escola de Administração da UFBA - Avenida Reitor Miguel Calmon s/n Vale do Canela
Para saber mais sobre o VI Elege acesse: http://www.elege.ufba.br